Nilson era um empreendedor nato, desde pequeno já fazia negócios com seus irmãos e amigos, trabalhava muito bem e rápido, desde que estivesse sendo pago, também aprendeu a poupar o que recebia, com 16 anos comprou sua própria bicicleta, isso no ano 1987 era muito difícil de se ver, seus pais de classe média não podiam oferecer mais do que o necessário para ele: alimentação de boa qualidade, escola particular e moradia digna, Nilson e sua família viviam felizes no interior do Rio de Janeiro.
Mas voltando a bicicleta, - (ah!) - pense em uma bem bonita, toda branca com adesivos prateados e azul marinho, Nilson fez questão de colocar os itens mais modernos nela: aros com boa superfície para auxiliar na frenagem, 3 coroas importadas, garfo de carbono com sistema de amortecimento, pedais com presilhas que auxiliam no equilibrio em velocidade mais alta, refletores para a segurança nas ruas e um squeeze para carregar a água, tudo estava perfeito e lá foi ele para o seu primeiro passeio, enquanto estava pedalando rumo a sua casa lembrava tudo que deixou de comprar nesses 18 meses de poupança, abrindo mão dos doces, brinquedos e até do cinema, 1 ano e meio sem ir ao cinema!
Não sei se você consegue imaginar como é esperar 18 meses para comprar algo que se quer agora, é muito difícil, nosso povo está acostumado a recorrer a financiamentos e empréstimos para ter seus desejos satisfeitos na hora, nosso amigo Nilsinho experimentou uma felicidade que a maioria das pessoas nunca experimentará, quem recorre as facilidades para obter o que quer logo não vê mas importância e deixa o bem de lado abrindo vaga para outra aspiração, bom, na verdade a vontade de ter é melhor do que ter, e Nilson também sentiu isso, depois da primeira semana já não queria mas pedalar todo dia, a cidade era a mesma, os caminhos e as pessoas iguais e ele com vontade de sair dali e conhecer outros lugares, nada motivava ele mais naquele lugar, ele amava sua história e sua infancia mas resolveu juntar dinheiro para viajar e seria quando fizesse 18 anos, estava decidido, foi a uma agência de turismo da cidade e criou um roteiro que passava pelas cidades mais importantes do Brasil e depois iria ao Chile (o guia tinha acabado de chegar de Macho Pichu!), pronto, tudo planejado agora era só guardar o dinheiro por 2 anos e depois aproveitar a viagem.
Pera aí, onde ficou a bicicleta? será que está esquecida em algum canto?
Roberto Oliveira
